Cartas do Gestor – Junho 2024

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Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,

Em junho, o real perdeu mais de 6% contra o dólar, acumulando 13% de desvalorização em 2024 – a maior entre as moedas que acompanhamos. Desde o início do ano, o índice de moedas de países emergentes do Deutsche Bank perdeu pouco menos de 4%, equivalente à valorização do índice DXY (dólar contra outras moedas de países desenvolvidos).

Essa desvalorização, se sustentada, é grande o bastante para desencadear uma nova rodada de piora nas expectativas de inflação para 2025 e, por consequência, forçar o Copom a voltar a subir a taxa Selic. Porém, estimamos que a volta do dólar/real à faixa de 5,35-5,40 seja compatível com a manutenção da taxa Selic em 10,50% e a inflação “ao redor da meta” pelo modelo de pequeno porte (atualizado no último relatório trimestral de inflação, divulgado na semana passada) do Banco Central. Este ainda é o nosso cenário-base para o restante de 2024.

Considerando o movimento inesperado do real (não éramos particularmente otimistas com a moeda brasileira, mas também não imaginávamos que ela teria o pior desempenho no nosso universo de cobertura) nos últimos meses, temos relativamente pouca confiança no cenário futuro. Parece razoável esperar que haja uma correção do movimento recente (em particular da última semana de junho), muito alimentado por ruído político e sem correspondência nos pares; assim como também não seria surpreendente se o USDBRL continuasse em tendência de alta (sem requerer para isso piora nos fundamentos) durante os meses de liquidez reduzida do verão do hemisfério norte.

A dependência do cenário ao câmbio é ampliada porque é difícil esperar boas notícias nos próximos meses nos campos político e fiscal, principais fontes de ruído nos mercados. Assim, mesmo com a materialização de números (de inflação, crescimento e resultado fiscal) não muito diferentes do que se esperava desde o início do ano, a interação entre mercados “machucados”, com baixa tolerância a risco adicional e políticos inconsequentes amplia o problema de expectativas que tem alimentado o aumento nos prêmios de risco embutidos nos ativos locais.

No mundo desenvolvido, os dados mais recentes de inflação e atividade seguiram validando a expectativa de cortes de juros mais disseminados ao longo do segundo semestre, com o Fed ainda podendo iniciar seu ciclo na reunião de setembro. Outros movimentos no mês de mercados específicos, como no México, França e África do Sul, demonstraram o potencial de eleições mexerem com preços de ativos, algo que certamente será seguidamente lembrado enquanto nos aproximamos da votação mais importante do mundo, em 5 de novembro.

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.

 

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