Cartas do Gestor – Junho 2025

Share on linkedin

Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,

A tendência global de desvalorização do dólar prosseguiu em junho. O índice DXY terminou o primeiro semestre com o pior desempenho (-11%) para períodos similares nos últimos 50 anos. Não é preciso lançar mão de teorias de perda de hegemonia do dólar como reserva de valor global para explicar esse movimento: ao posicionamento e valorização exagerados do início do ano seguiu-se um importante ajuste de perspectiva de crescimento dos EUA com relação ao resto do mundo. Com a inflação americana ainda sem mostrar influência das novas tarifas, o mercado passou a esperar que esse ajuste também seja refletido nas taxas de juros, o que deve reduzir a atratividade de investimentos de curto prazo denominados em dólar.

Desde a década de 1970, as maiores desvalorizações anuais do dólar em anos-calendário foram entre 15% e 20%, de forma que é improvável que vejamos uma repetição na mesma intensidade do movimento dos últimos meses. Na nossa visão, mais desvalorização do dólar depende da confirmação pelo Fed das quedas embutidas na curva de juros (0,75pp até o final do ano), que, por sua vez, dependem de mais evidências de que as tarifas não elevarão substancialmente a inflação esperada para daqui a 12-18 meses. Outra condição poderia ser uma desaceleração mais substancial da economia, afetando o emprego. Nos últimos meses, passamos a ver sinais mais claros no consumo, que parece ter estagnado em termos reais. De qualquer maneira, ainda precisaremos observar qual será o destino das tarifas depois de julho, uma vez expirados os prazos iniciais

para negociações bilaterais impostos pelo governo americano.

No Brasil, notícias ruins no campo político/fiscal contrastam com o otimismo nos mercados, sugerindo que os fatores globais têm sido dominantes para os preços. A valorização de 14% do real contra o dólar no período (similar ao movimento do euro/dólar) tem aliviado as pressões na inflação e fez com que Banco Central e o mercado convergissem em julgar adequado um fim, ao menos temporário, no ciclo de altas da Selic. Na agenda doméstica, seguimos vendo espaço para menos disciplina fiscal no futuro, já que é imperativo seguir aumentando gastos na medida em que a eleição se aproxima e esgotou-se a viabilidade política de aumentar impostos. Se de fato os movimentos do dólar global passarem a ser menores nos próximos meses, os fatores locais negativos podem interromper o otimismo da primeira metade do ano – e, quaisquer que sejam as convicções para as eleições de 2026, parece precipitado exercê-las com tantas fontes de incerteza em outros eventos até lá.

Obrigado,

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.

Acompanhe os relatórios de gestão da Neo:

Neo Multimercado 30

Neo Provectus I

Neo Argo Long & Short