Cartas do Gestor – Agosto 2024

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Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,

Em agosto, o cenário nos Estados Unidos seguiu se encaminhando para uma conjuntura favorável para mercados emergentes, com a consolidação das expectativas de corte de juros a partir de setembro e dados de atividade fortes mitigando o risco de recessão precificado após a leitura decepcionante (em parte por fatores climáticos) do relatório de emprego de julho. Com isso, o dólar perdeu valor contra a maioria das moedas globais e os títulos de dívida local de emergentes tiveram o mês de melhor desempenho no ano. Também contribuiu para o cenário positivo uma “normalização” da corrida presidencial, com a substituição do candidato Democrata levando à perspectiva de uma eleição sem desfecho evidente.

Em alguns emergentes, porém, os fatores (negativos) locais foram preponderantes. No México, o não-recuo na intenção de usar a nova maioria qualificada no congresso para aprovar uma ampla reforma no Judiciário seguiu afastando investidores, levando à desvalorização de 6% do peso contra o dólar. No ano, até 30 de agosto, é a moeda que teve o pior desempenho no nosso universo de cobertura, seguida de perto pelo real.

No Brasil, tivemos mais um mês de ruídos na condução das políticas monetária e fiscal. No Banco Central, a impressão de relativa tranquilidade com o nível atual da taxa Selic após a leitura do comunicado da reunião de julho foi desfeita com a ata desta mesma reunião e, posteriormente, com as inúmeras declarações públicas de membros do Copom, em meio à troca da presidência e de vários membros do comitê. Há um mês acreditávamos que o início de um novo ciclo de alta de juros requereria mais deterioração nas expectativas de inflação ou dados de atividade mais fortes; hoje, nossa leitura é uma inversão desse “ônus da evidência”: uma não-melhora no cenário dos últimos meses deve levar a juros mais altos já a partir de setembro. Acreditamos em um ciclo gradual de 100pb de alta acumulada na Selic – mais detalhes da mudança de cenário estão no nosso último Relatório Econômico.

Quanto à política fiscal, fomos surpreendidos pela criação de um vale gás revisto e ampliado, a ser implementado por fora do orçamento federal – uma manobra que mina a capacidade do governo de transformar em receita primária sua parte na exploração de hidrocarbonetos e mostra receptividade a políticas de apelo popular driblando o limite de despesas estabelecido pelo arcabouço fiscal. O orçamento de 2025, apresentado no último dia do mês, repete a fórmula utilizada durante 2024, que não gera ancoragem de médio prazo, não traz revisão significativa de despesas (com exceção do “pente fino” prometido para benefícios sociais) e apoia-se em substancial aumento de receitas (cerca de R$160 bilhões) para viabilizar a meta de resultado primário.

Com tudo isso, o Brasil parece contratar volatilidade maior que a média para o futuro, já que não há consenso sobre onde vão parar os juros ou sobre como e se as regras fiscais serão cumpridas. Isso torna o risco/retorno de investimentos no país menos atrativo e pode fazer com que o país deixe de aproveitar eventuais períodos de maior otimismo com o cenário global, como foi o caso do mês que passou.

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.

 

Acompanhe os relatórios de gestão da Neo:

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