Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,
O relatório de emprego dos Estados Unidos de julho, publicado no início de agosto, parece ter deslocado a preferência da maioria do comitê que decide os juros básicos para um reinício do ciclo de cortes já na reunião de setembro. Em sua esperada fala no simpósio anual do Fed de Kansas, o presidente Powell confirmou a visão que, ante os riscos de mais enfraquecimento no mercado de trabalho e de inflação de bens importados mais alta por conta de tarifas, o banco central deve preferir agir para mitigar o primeiro, na expectativa de que o segundos seja temporário e não disseminado para outras categorias de gastos.
Com isso, o mercado antecipa os juros overnight americanos ao redor de 3% no final de 2026, o que, juntamente com a alta esperada na inflação, deve implicar em juros reais próximos de zero. Essa configuração realimentou a desvalorização do dólar global, com a maioria das taxas de câmbio que acompanhamos devolvendo quase toda a correção do mês anterior. O real pouco se diferenciou nesse movimento, e sua cotação contra o dólar voltou a ficar próxima das mínimas deste ano.
A valorização do real e a sustentação do preço do petróleo em um patamar cerca de 10% abaixo do final de 2025 contribuíram para a consolidação de expectativas de inflação ligeiramente mais baixas no Brasil, mesmo com números correntes de serviços ainda bastante altos. Na mesma direção atuaram os dados mais recentes de atividade econômica, que levaram a revisões nas projeções de PIB do segundo trimestre de crescimento (contra o trimestre anterior) de cerca de 0,5% para algo mais próximo de estabilidade.
Com isso, revisamos nossas projeções de inflação anual para 4,7% em 2025 e 4,2% em 2026. Não fizemos revisões significativas nas projeções de PIB, acreditando que, no segundo semestre, uma aceleração na execução do orçamento público, maiores volume de transferências do governo para famílias e novas modalidades de crédito ganhando tração mitigarão os efeitos da política monetária contracionista.
Com essas expectativas, ajustamos a trajetória esperada para a taxa Selic. Acreditamos que, mesmo com uma correção na taxa de câmbio reais/dólar para 5,60, os modelos do Banco Central projetarão, em meados do primeiro trimestre de 2026, a inflação ao redor da meta no horizonte que tem utilizado para a convergência. Com isso, um ciclo de queda de juros poderia ser iniciado em março (ante junho, no cenário anterior). Porém, acreditamos que a turbulência do ano eleitoral levará a um ciclo mais gradual do que o atualmente precificado pelo mercado, com a taxa básica terminando 2026 em 13,25% (contra 12,5% pela precificação da curva futura no fechamento de agosto).
Luciano Sobral, economista da Neo.
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