Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,
O novo governo americano passou mais um mês criando ruídos e factoides, dando poucas indicações mais firmes de qual seria seu real plano de política econômica para os próximos quatro anos. Enquanto escrevemos, parecem estar em vigor novas e agressivas tarifas sobre importações de bens dos principais parceiros comerciais (Canadá, México e China), que podem ou não ser revistas nos próximos dias, podendo ou não afetar significativamente os cenários de inflação, atividade e juros em diversos países. Essa incerteza tem levado à paralisia em alguns mercados (a volatilidade realizada das taxas de câmbio de mercado está surpreendentemente baixa) e a um maior risco de desaceleração da atividade econômica, seja pelo efeito potencial das tarifas ou pelo encurtamento radical do horizonte de tempo para o qual é possível ter alguma visibilidade do cenário à frente.
Na Europa, os sinais de pouco comprometimento dos Estados Unidos com os termos da OTAN e o resultado das eleições da Alemanha levaram a uma rápida mudança no panorama fiscal da região, com um grande aumento prometido para gastos do governo em defesa e infraestrutura nos próximos anos. O precedente aberto pelo país que, por décadas, atuou como exemplo e fiador de austeridade na região, reduz, no curto prazo, o risco de recessão disseminada na zona do euro e deve levar a uma nova rodada de aumento de déficits em vários países. O mercado de juros longos deve passar a ser acompanhado ainda mais de perto, como árbitro de quem pode ou não contar com mais espaço fiscal para acomodar novas expansões de orçamento público.
No Brasi, novas pesquisas mostraram uma queda acelerada nos indicadores de popularidade do governo, o que deve levar a uma reação na forma de novas políticas para tentar reduzir a inflação e acelerar o crescimento econômico. Acreditamos que ainda é prematuro tentar prever o resultado das eleições de 2026 e que tal reação seguirá alimentando a volatilidade nos mercados. Um caminho de maior austeridade fiscal dificilmente será adotado e políticas populistas podem, apesar do efeito negativo nos ativos, recuperar parcialmente a avaliação positiva do governo e as chances de reeleição do PT.
No campo da inflação, vemos, pela primeira vez em meses, alguma estabilização nas projeções, ainda que em níveis muito altos (cerca de 6% para 2025 e 4,5% para 2026). Tal estabilização é um primeiro passo para termos um pouco mais de convicção no nível da taxa Selic ao fim do ciclo atual, que hoje parece estar ao redor de 15,5% – ainda a depender, sobretudo, do comportamento da taxa de câmbio nos próximos meses. Os indicadores de atividade deixaram de apontar inequivocamente para uma expansão da economia acima do potencial, mas ainda não temos segurança para acreditar em uma desaceleração mais forte, tanto pelo ruído inerente dos dados mensais quanto pelo provável reaquecimento da demanda nos primeiros meses do ano, alimentado pelos aumentos automáticos das transferências do governo e pela forte safra esperada.
Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.
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