Cartas do Gestor – Julho 2025

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Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,

Desde o chamado “Liberation Day”, em 2 de abril deste ano, o governo Trump iniciou uma guerra tarifária contra diversos países, incluindo o Brasil, inicialmente submetido a uma tarifa base de 10%. Apesar de um alívio inicial, a preocupação ressurgiu dia 9 de julho, quando Trump anunciou uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros.

Ao contrário das justificativas comerciais usadas em outros casos, desta vez Trump alegou abertamente uma razão política inédita na relação entre os dois países. Isso acabou mudando um pouco as peças do xadrez que se desenhava para a corrida eleitoral de 2026, embora ainda falte muito tempo para as eleições. Lula aproveitou politicamente a situação na disputa com um inimigo comum e conseguiu obter uma performance melhor em algumas pesquisas, em menor grau similar ao que ocorreu nas eleições recentes do Canadá e Alemanha.

Apesar disso, o impacto econômico das tarifas deve ser limitado, concentrado em setores específicos, já que o Brasil exporta majoritariamente commodities com redirecionamento mais fácil para outros mercados. A lista de exceções às tarifas divulgada em 30 de julho reduziu ainda mais possíveis prejuízos.

Julho também marcou o fim do semestre legislativo com dias intensos de trabalho no congresso. O IOF teve decisão favorável do ministro Alexandre de Moraes, excluindo apenas a incidência sobre risco sacado. No Congresso, o deputado Arthur Lira apresentou parecer favorável à reforma do Imposto de Renda,

alinhado à proposta governamental, com expectativa de avanço no segundo semestre.

Além disso, a PEC 66 avançou na Câmara e deverá ser votada no Senado após o recesso. Originalmente focada em precatórios municipais, a PEC agora inclui precatórios federais. No caso dos municípios, o texto atual permite um financiamento mais barato da dívida e um pagamento atrelado às receitas. Nossa avaliação é que, a PEC 66 acaba incentivamento ainda mais o aumento da dívida. No caso da União, os precatórios saem na sua totalidade do teto de gastos com uma redução do teto de gastos na mesma magnitude, tirando o risco de uma abertura de espaço extra para novos gastos. Além disso, a partir de 2027, haverá uma incorporação mais gradual dos precatórios para apurar a meta de primário. Com isso, antevemos para 2027 uma necessidade menor de esforço para atingir a meta de resultado primário.

O relatório bimestral de receitas e despesas trouxe uma redução significativa no contingenciamento de gastos, passando de R$31,3 bilhões no primeiro bimestral para R$10,7 bilhões atualmente, impulsionada pela expectativa de receitas com a venda do óleo do pré-sal.

No fim desse mês agitado com eventos que alimentam tantas incertezas em torno do cenário base e acabam exigindo cautela adicional na condução da política monetária, o Banco Central manteve a taxa SELIC em 15,0% a.a e trouxe um comunicado com poucas mudanças, no tom que julgamos adequado para o momento. Mesmo que tenhamos visto dados do 2º trimestre que aumentam um pouco a confiança no processo de desaceleração da atividade e da desinflação, a nossa visão é de que o processo para desinflação ainda será arduo e conturbado com riscos de estímulos fiscais às vesperas das eleições.

Obrigado,

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.

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