Cartas do Gestor – Novembro 2024

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Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,

Em novembro, a apresentação (junto com o amplamente antecipado pacote de controle de gastos) da proposta de reforma do Imposto de Renda de Pessoa Física ampliou o grau de desconfiança dos mercados sobre a política econômica brasileira. O arcabouço fiscal segue com o problema fundamental de, mesmo se cumprido à risca, não estancar o crescimento da relação dívida/PIB. Além disso, agora os agentes questionam se a proposta de isentar do pagamento de IR praticamente 70% da população que entrega a declaração anual à Receita (e, em contrapartida, tentar taxar os “super-ricos”) não acabará resultando em menos arrecadação e mais pressão inflacionária numa economia já superaquecida.

Antes disso, a ampla vitória (colégio eleitoral, voto popular e maioria nas duas câmaras do congresso) dos Republicanos nas eleições americanas do início do mês trouxe mais problemas potenciais para países emergentes. O dólar fechou o mês acumulando mais valorização contra quase todas as moedas que acompanhamos, e o espectro de um choque de tarifas no comércio global seguirá rondando os mercados ao menos pelos próximos meses.

As políticas monetária e fiscal brasileiras seguem sem fornecer referências claras e críveis (as tais âncoras) para o futuro das principais variáveis macroeconômicas. Acreditamos que as expectativas de inflação para 2025 (hoje, pelo boletim Focus, em 4,40%) seguirão aumentando até o intervalo 5,0%-5,5%, o que continuará pressionando o Copom para elevar a Selic. Não acreditamos que o Banco Central simplesmente endossará a precificação do mercado futuro (que já vê a Selic a perto de 15% no final do ciclo), mas, provavelmente, a taxa será elevada para as imediações de 13,5% até que as expectativas e o câmbio reduzam as oscilações. Os juros reais resultantes, ao redor de 8%, estarão entre os maiores dos últimos 20 anos, mas ainda não está claro se serão suficientes para estabilizar o câmbio caso o ambiente global volte a ser inflacionário e os juros americanos de mercado sigam subindo.

Como notamos acima, ainda vemos o fluxo de notícias nos próximos meses como negativo, com potencial de seguir alimentando a deterioração nos preços de ativos brasileiros. Para o cenário global, somente em janeiro, depois da posse de Trump, devemos ter um pouco mais de clareza sobre qual versão da agenda da campanha prevalecerá.

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.

 

Acompanhe os relatórios de gestão da Neo:

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