Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,
A perspectiva do retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos finalmente começou a influenciar os mercados globais. Se o favoritismo do candidato republicano nos mercados de apostas (63% de probabilidade) parece exagerado com relação às pesquisas (chances virtualmente iguais para ambos os candidatos), o impacto potencial do evento é grande a ponto de fazer com que tomadores de risco ao menos contenham seu ímpeto até que haja mais clareza sobre como será a política econômica da maior economia do mundo a partir do ano que vem.
A agenda protecionista de Trump tem impacto potencial inflacionário e recessivo, o que justifica as altas nas taxas de juros curtas globais (lideradas pela precificação dos movimentos futuros do Federal Reserve) e o desempenho ruim de ativos mais ligados a crescimento (commodities, moedas e dívida de emergentes, entre outros). Além disso, ao longo do mês, dados de atividade (fortes) e inflação (ainda acima da meta) nos Estados Unidos mostraram-se pouco condizentes com o início acelerado do ciclo de cortes de juros em setembro, também alimentando o movimento do mercado de juros descrito acima.
O Brasil seguiu à deriva do cenário global, com o real acumulando 6% de desvalorização no mês – em linha com outras moedas de emergentes e desenvolvidos ligadas a commodities. Com a entrada no período do ano de habituais fluxos de saída de capitais, deixamos de prever um alívio no mercado de câmbio. Por consequência, aumentamos ligeiramente as projeções de inflação de 2024 e 2025 (para 4,6% e 4,7%, respectivamente).
A condução da política monetária no Brasil a partir de 2025 nos parece particularmente incerta. Parece razoável esperar que a taxa Selic siga subindo até cerca de 12,50%. A partir daí, deve-se inferir qual será a estratégia do banco central sob nova presidência. Seria perfeitamente justificável, sem prejuízo adicional à credibilidade da instituição, a manutenção nesse patamar por um período prolongado (assumindo, claro, que o cenário de inflação não siga se deteriorando). A opção por taxas ainda mais altas poderia ser justificada caso fosse desejada uma desaceleração mais rápida da inflação, mas não vemos o BC disposto a pagar o custo, na forma de uma contração mais forte da atividade econômica. Também não vemos, por ora, disposição para acomodação com uma inflação significativamente mais alta que o centro da meta – sobretudo porque os mercados provavelmente puniriam essa política com mais desvalorização do câmbio e, consequentemente, mais inflação no período próximo às eleições de 2026.
Dessa forma, vemos como mais provável o cenário de “high for long”, no qual a Selic fica parada em um patamar alto e contracionista por bastante tempo. Com o hiperativismo fiscal do governo, isso pode não ser o necessário para frear a inflação e novos ajustes podem ser feitos, mas, novamente, não vemos essa leitura como majoritária no BC até que tenhamos mais clareza sobre o comportamento da atividade econômica no ano que vem.
No Brasil e no resto do nosso universo de cobertura, é praticamente impossível construir cenários não condicionados ao resultado da eleição americana e à subsequente reação dos mercados. Assim, em novembro deveremos ter um pouco mais de convicção quanto ao que nos espera para 2025 e adiante.
Obrigado,
Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.
Acompanhe os relatórios de gestão da Neo: