Prezado(a)s amigo(a)s e investidore(a)s,
Setembro marcou o tão esperado início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos, com um movimento (0,5pp) pouco usual na ausência de choques financeiros ou eventos externos. Como ficou clara a intenção de, no cenário-base, não repetir essa magnitude, a explicação para isso parece estar mesmo numa “calibração”, ou uma mea-culpa do FOMC por não ter cortado já em julho. Os dados de atividade americanos seguem robustos, indicando crescimento anualizado ao redor de 3% no terceiro trimestre, e o impulso dado pelo afrouxamento recente das condições financeiras faz com que o ‘pouso suave’ fique mais provável. Esperamos cortes consecutivos de 0,25pp até 3,25%-3,50%, de forma que a precificação atual embutida nos juros futuros ainda parece exageradamente baixa (implicando uma probabilidade de recessão maior do que a sugerida pelos dados mais recentes). O mercado segue alheio aos riscos de mudanças na política econômica em caso de vitória Republicana nas eleições de novembro.
Uma possível virada de curto prazo na condução da política fiscal da China, sinalizada na última semana do mês, aumentou o otimismo global com mercados emergentes. Parece ser intenção do governo chinês estimular a demanda, de forma aproximar a economia da meta de 5% para o crescimento do PIB neste ano, e conduzir uma recapitalização do sistema bancário, reduzindo os riscos associados à desalavancagem do setor imobiliário. A sustentação desse melhor humor depende agora da anúncio efetivo desse plano nas próximas semanas.
No Brasil, o Banco Central seguiu aumentando o tom contra a deterioração das expectativas de inflação, endossando a precificação de mercado de juros acima de 12% no final do ciclo iniciado em setembro (alteramos nossa projeção de Selic ao fim do ciclo para 12,25%, passando a projetar altas de 0,5pp nas três próximas reuniões do Copom). Seguimos relutantes em acreditar que a nova maioria do Copom, a partir de 2025, estará disposta a manter juros reais muito altos em meio a uma possível desaceleração da economia para reancorar as expectativas de inflação. Com isso, deve seguir havendo espaço para grandes movimentos nos juros futuros e nas taxas de inflação implícitas.
Obrigado,
Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.
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