Cartas do Gestor – Janeiro 2022

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Prezados (as) amigos e investidores,

O ano começou com dois dos bancos centrais mais relevantes do mundo caminhando em direções opostas. Enquanto o Fed sinalizou que deve subir mais e mais rápido os juros básicos do que o mercado precificava no final de 2021 (o mercado futuro passou a precificar duas altas de 0,25 pp adicionais nos Fed Funds este ano, totalizando cinco), o banco central da China deu os primeiros passos na direção de algum afrouxamento nas condições financeiras, cortando (ainda timidamente) os juros de várias de suas taxas referenciais.

Essa conjuntura, juntamente com a seca em parte da América do Sul (que levou a revisões negativas nas estimativas das principais colheitas) e a possibilidade de disrupção na oferta global de petróleo (com a disputa por território na Ucrânia), levou à alta generalizada nos preços de commodities e nova piora nas trajetórias percebidas para a inflação de curto prazo, mesmo com a alta dos juros americanos e do dólar contra as moedas de outros países desenvolvidos.

Como consequência, sob premissas de preços de alimentos, combustíveis e produtos industrializados mais altas, revisamos nossa projeção da inflação acumulada em 2022 (pelo IPCA) para 5,9% (de 5,1%). Nossa avaliação quanto à trajetória da taxa Selic segue inalterada: há pouco que o Copom possa fazer para influenciar a inflação deste ano, a não ser manter os juros em patamar que estabilize (ou aprecie) a taxa de câmbio.

Seguimos esperando juros ao redor de 12% no final do atual ciclo. A trajetória mais incômoda do que o esperado para os preços no curto prazo e os movimentos recentes do Fed e de outros bancos centrais adiciona um risco de altas residuais no segundo trimestre, como já precificado pela curva de juros.

Os excepcionais desempenhos do real e do Ibovespa no mês corroboram nossa visão que os preços de ativos locais refletem um cenário bastante pessimista para a condução da política econômica nos próximos anos. Esses preços estão sujeitos, portanto, a grandes movimentos em caso de melhoras, mesmo marginais, na percepção dos investidores.

Como não vemos ambiente para sinalizações críveis dessa condução nos próximos (muitos) meses, acreditamos que essa percepção seguirá oscilando e refletindo-se no mercado. O regime fiscal a partir de 2023, a peça fundamental na precificação do risco país de médio/longo prazo, deve ser discutido mais seriamente apenas após conhecido o resultado das eleições.

 

Acompanhe os relatórios de gestão da Neo para o mês de janeiro de 2022:

Neo Multimercado 30

Neo Provectus I

Neo Argo Long & Short

Neo Argo Equity Hedge

 

Obrigado,

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.