Cartas do Gestor – Julho 2022

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Prezados (as) amigos e investidores,

Os dados econômicos conhecidos nas últimas semanas, sobretudo as pesquisas com gerentes de compras (PMIs), seguiram alimentando um cenário de forte desaceleração da economia global. Nos Estados Unidos, a transmissão da piora das condições financeiras para esses indicadores e, por consequência, para as expectativas quanto à atividade futura foi bastante rápida e parece ter recolocado, ainda que de forma preliminar, a dinâmica do crescimento econômico na lista de preocupações do Federal Reserve.

Ao mesmo tempo, a queda nos preços de commodities, a retração na demanda por bens e a paulatina melhora nas condições de cadeias de suprimentos aumentou nossa convicção de que passaremos a ver números mais baixos de inflação. Não se trata, ainda, de uma vitória dos bancos centrais que levará, em breve, a quedas nos juros básicos: na nossa opinião, é uma consolidação de um cenário de inflação ainda alta, mas agora com surpresas nos dados, que estão deixando de se acumular todos na mesma direção.

Isso faz com que os BCs tenham mais liberdade para planejar e implementar políticas monetárias mais graduais, que permitam observar, ao longo do tempo, o efeito defasado das altas de juros passadas. Isso reduz a probabilidade de erros na direção de juros muito mais altos, que poderiam induzir uma recessão mais profunda ou prolongada (‘pouso forçado’).

Como, dentre os BCs do G3 (EUA, zona do euro e Japão), o Fed parecia ser, caso necessário, o mais propenso a de fato mudar os juros de patamar para além do precificado pelos mercados, sua moderação exerceu efeito imediato nos diferenciais de juros esperados e, por consequência, nas moedas. Com um nível de juros finais nos EUA mais bem delineado, os ativos de risco tiveram espaço para recuperação, com posições dependentes de um cenário de juros americanos muitos mais alto sendo reduzidas.

O fornecimento de energia na Europa segue sendo um entrave para uma melhora mais ampla dos mercados. Há o risco real (e difícil de ser estimado) de alguns países terem, nos próximos meses, que racionar o consumo de energia, com forte impacto na produção industrial e na confiança do consumidor. Aqui, uma trajetória de resolução ou ao menos alívio ainda parece pouco clara.

No Brasil, consumado o novo furo no teto de gastos, os ativos seguiram de perto os mercados globais. Também por aqui, o BC ganhou uma folga para respirar, com a quebra da dinâmica inflacionária nos próximos meses, a valorização do real e sinais incipientes de menor inflação “importada” (de bens) à frente. Com isso, aumentou nossa convicção no nível terminal da Selic ao redor de 14%. Seguimos também vendo pouco espaço para sinalizações construtivas quanto ao novo arcabouço fiscal nos próximos meses: a campanha eleitoral deve ser marcada por muita beligerância e pouca proposição.

Obrigado,

Luciano Sobral, economista-chefe da Neo.

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