Cartas do Gestor – Outubro 2021

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Uma medida simples da divergência que se aprofundou em outubro entre o Brasil e o resto do mundo: enquanto o Ibovespa em dólares caiu quase 9,8%, o índice S&P500 teve o melhor mês de 2021, subindo 6,9%. Com mais um mês terminando sem acordo para a votação da PEC dos Precatórios e o fim dos pagamentos de Auxílio Emergencial, o mercado segue sem parâmetros claros para avaliar o tamanho do gasto público em 2022. Talvez, pior do que isso tenha sido a demonstração de submissão do Ministro da Economia à agenda de gastos “extraordinários” em ano de eleição e o consequente desmonte da equipe responsável pela elaboração e execução do orçamento federal.

Sem a sinalização de que o ministério agirá para impor uma restrição dura nos gastos, o mercado passou a assumir que o Banco Central será forçado a aumentar os juros básicos até perto de 14%, produzindo uma recessão já em 2022, que seria, então, combatida com cortes de juros já a partir do último trimestre do próximo ano, passadas as eleições.

O problema, acreditamos, segue menos no cenário central e mais no aumento da probabilidade de uma deterioração contínua das condições financeiras, desembocando em um cenário de estagflação. Notamos que esse cenário ruim não é inevitável – as condições globais seguem favoráveis, ainda há um “dividendo de vacinação” a ser recolhido nos próximos meses (com o fim das restrições para alguns tipos de serviços) e seguimos acreditando em uma forte desinflação em 2022.

Antes de ser abandonado, o teto de gastos cumpriu a função de estabilizar os gastos do governo com relação ao PIB, de forma que as condições iniciais para uma rodada de ajuste fiscal são muito mais favoráveis que em 2016, considerando também a recuperação da economia (ainda que nada espetacular) em curso em contraste com a profunda recessão daquela época. Diferentemente daquela ocasião, porém, ainda falta qualquer senso de urgência para que a dinâmica dos últimos meses comece a ser revertida, e uma mudança de governo ainda está muito distante no futuro. Na ausência de credibilidade dos atuais atores, o aparecimento desse senso de urgência pode ainda requerer mais tempo de deterioração dos mercados.

 

Acompanhe os relatórios de gestão da Neo para o mês de outubro de 2021:

Neo Multiestratégia 30

Neo Provectus I

Neo Argo Long and Short

Neo Argo Equity Hedge